O setor elétrico brasileiro é um dos sistemas mais sofisticados do mundo, capaz de integrar diferentes fontes de geração, múltiplas tecnologias e desafios regulatórios. No centro desta engrenagem está o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), responsável por coordenar a operação da geração e da transmissão de energia elétrica, garantindo o suprimento contínuo e seguro para milhares de empresas e milhões de pessoas.
Em um cenário de crescimento das fontes renováveis, avanço do mercado livre de energia, digitalização dos processos e metas de redução de emissões, operar o sistema elétrico de forma integrada e segura se torna cada vez mais complexo. Nesse contexto, conhecer o funcionamento e as atribuições do ONS é essencial para entender como o Brasil garante o equilíbrio entre oferta e demanda de energia hoje e no futuro.
O que é ONS?
O Operador Nacional do Sistema Elétrico é a entidade responsável por coordenar e controlar a operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica integrantes do Sistema Interligado Nacional (SIN) e de alguns sistemas isolados, sob regulação e fiscalização da ANEEL. Sua atuação é voltada a garantir que o sistema opere com segurança, confiabilidade e eficiência, assegurando o suprimento de energia elétrica ao país.
É importante diferenciar o papel do ONS do papel da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Enquanto o ONS realiza o planejamento e a programação da operação do sistema elétrico com base na situação atual da rede, buscando evitar riscos operativos e garantir o suprimento seguro, a EPE é responsável pelo planejamento da expansão da geração e da transmissão no longo prazo, considerando o crescimento do consumo, a industrialização e a segurança energética.
Criado em 1998 por lei federal, o ONS é uma associação civil sem fins lucrativos, formada por agentes do setor elétrico — geradores, transmissores, distribuidores, comercializadores, consumidores livres e entidades governamentais — que atuam em cooperação sob a regulação da ANEEL.
O ONS desenvolve estudos e planos de operação em horizontes de curto e médio prazo. Também é responsável por coordenar, em tempo real, a operação da geração e da transmissão de energia elétrica em todo o território nacional por meio do SIN, rede que interliga as principais regiões do Brasil e torna possível o intercâmbio de eletricidade entre elas. A operação do SIN é de responsabilidade do ONS.
Qual a função do ONS para o setor de energia?
O ONS deve garantir que o sistema eletroenergético funcione de forma otimizada, em busca de custos sempre menores, mas sem perder os padrões técnicos e de qualidade colocados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Além disso, o órgão é fiscalizado e regulado também pela Aneel, e juntos são responsáveis por estipular as especificidades técnicas dos leilões de transmissão. O ONS trabalha de maneira articulada com o CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), o qual é coordenado pelo MME (Ministério de Minas e Energia).
Outras tarefas importantes do ONS são: fazer com que os agentes do setor elétrico (geradores, autoprodutores, consumidores, distribuidores e agentes de importação e exportação) acessem a rede de transmissão de forma igualitária.
Por meio de cinco centros espalhados pelo país, o ONS controla a operação em tempo real. O órgão é responsável por garantir a segurança e a continuidade do suprimento de energia, recomendando as ampliações necessárias para que a rede elétrica continue crescendo.
A sua atuação vai além do Brasil, o ONS pode realizar acordos com países da América do Sul, por meio de intercâmbios de energia elétrica. Além de participar de convênios de cooperação técnica com instituições de outros países.
Entenda as principais áreas de atuação do ONS:
Para que o sistema eletroenergético funcione da maneira certa, o ONS trabalha em diversas áreas. Algumas dessas frentes de atuação acabam se interligando em meio ao processo. Veja mais:
Ampliação e reforços da rede elétrica
O ONS realiza estudos aprofundados sobre as necessidades futuras do SIN, recomendando obras de transmissão fundamentais para manter a confiabilidade operacional nos próximos cinco anos. Essas recomendações são alinhadas aos planejamentos feitos pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), instituição que elabora as bases técnicas das expansões sistêmicas.
O operador monitora ainda obras de distribuição consideradas de impacto sistêmico, sugerindo adaptações, reforços e expansões, sempre de forma integrada com as distribuidoras de cada região. Esse olhar estratégico é fundamental para que o crescimento da rede acompanhe o avanço tecnológico e as transformações do mercado livre de energia.
Integração de novas instalações
Quando novas usinas, linhas ou sistemas entram em operação, o ONS garante que elas estejam adequadas a requisitos técnicos, operacionais e legais voltados à segurança da operação e à estabilidade do sistema elétrico. Uma das funções é verificar a viabilidade de instalação de sistemas de medição para faturamento (SMF), fundamentais para o controle financeiro do setor e tão importantes quanto os demais requisitos técnicos para manter a confiabilidade do sistema.
O órgão avalia ainda a conformidade com as normas de qualidade exigidas pela Aneel e por outros órgãos reguladores, orientando atualizações e aperfeiçoamentos necessários para preservar a integridade da rede e os níveis de desempenho requeridos.
Planejamento da Operação Eletroenergética
Ao elaborar estudos elétricos e energéticos periódicos, o ONS avalia constantemente as condições de suprimento futuro do país. Utiliza técnicas de simulação, projeção de cenários, análise dos níveis dos reservatórios, intercâmbios energéticos e dados climáticos para definir estratégias, metas e expectativas operacionais.
O planejamento assume papel fundamental na antecipação de crises — como eventos climáticos extremos, crise hídrica e quedas inesperadas de oferta —, permitindo que o sistema opere sempre buscando custos mínimos e máxima segurança técnica.
Programação da Operação Eletroenergética
A programação é pensada em prazos curtos, com avaliações mensais, revisões semanais e decisões diárias sobre o despacho da geração, uso da transmissão e intervenções pontuais para garantir o equilíbrio do SIN. Nessa etapa, o ONS considera o armazenamento nos reservatórios, a necessidade de redistribuição regional e os intercâmbios entre países parceiros.
A flexibilidade do planejamento é um dos diferenciais do ONS, capaz de adaptar operações diante de demandas emergenciais ou alterações inesperadas no consumo nacional.
Operação e avaliação da operação
Esse campo envolve o controle direto dos processos de pré-operação, operação e pós-operação. O monitoramento detalhado assegura que toda operação seja registrada, avaliada e aprimorada mediante indicadores de desempenho, ocorrências e aprendizado com eventos adversos, como apagões, tempestades ou problemas estruturais.
O ciclo de avaliação resulta em recomendações técnicas para os agentes, que podem inclusive subsidiar decisões de expansão e atualização tecnológica, contribuindo para a evolução contínua do setor.
Administração da Transmissão
Cabe ao ONS a tarefa de administrar o fluxo financeiro entre empresas do setor, coordenar contratos de acesso e uso da rede e apurar os encargos gerados pela transmissão. Esse trabalho permite que o mercado elétrico funcione com maior previsibilidade e transparência, favorecendo o desenvolvimento de soluções inovadoras e o aprimoramento dos modelos de negócio.
ONS e a coordenação dos sistemas

Planejamento da operação
Como foi dito anteriormente, para expansão do sistema elétrico nacional, o ONS cria o Plano da Operação Elétrica de Médio Prazo. É neste plano que fica documentado quais serão as ampliações da rede básica e quais instalações precisarão ser reforçadas, indicando quais são os equipamentos que precisam ser substituídos, seja por esgotamento da vida útil, risco de danos a instalações ou desgastes prematuros que podem acontecer.
Esse plano visa os próximos 5 anos seguintes, levando em conta que os 2 primeiros anos possuem uma visão mais operacional e nos outros 3 anos o foco é nas estruturas das obras. Adicionalmente, mais no âmbito do curto prazo, são realizados os estudos com horizonte quadrimestral para subsidiar a programação da operação.
Pré-operação
Para que o sistema opere dentro das expectativas e atenda as demandas exigidas, o ONS precisa planejar e programar a operação eletroenergética. Ainda assim, antes de chegar na etapa de planejamento, são feitos diversos estudos e análises que possam garantir que as instalações estão adequadas às regras físicas e legais.
O planejamento das operações é feito baseado nestes estudos e análises a fim de conseguir estabelecer um sistema otimizado e seguro. Dentro desse planejamento são criadas estratégias e estabelecidas expectativas de resultados, visando um custo menor possível.
A programação da operação é pensada sempre a curto prazo, de maneira mensal, revisada semanalmente e estabelecida diariamente. Nesta etapa, o ONS considera os intercâmbios de energia, as metas dos níveis de armazenamento dos reservatórios e a possibilidade de intervenções nos equipamentos do sistema, para garantir a segurança operacional do sistema.
Operação em tempo real
Com o planejamento e a programação diária em mãos, o ONS coordena e supervisiona o funcionamento da Rede de Operação, incluindo o sistema de transmissão e as instalações do SIN.
Existem diversos centros de operação espalhados pelo país e seu funcionamento se dá como a operação de tráfego aéreo, por exemplo. Nos centros, há operadores 24 horas por dia acompanhando o funcionamento das usinas. Esses profissionais acompanham a programação diária e ficam em alerta para caso algo saia do planejado, eles possam entrar em contato com a equipe da usina para entender o que está acontecendo.
Pós-operação
Na etapa de pós-operação, o ONS apura os dados referentes à operação, analisa as ocorrências e divulga os resultados para os agentes do setor. É feita a avaliação da operação a partir dos resultados obtidos. São mapeadas possíveis falhas ou eventos adversos, quais as causas e quais podem ser as correções feitas ou medidas preventivas a serem tomadas.
Qual a estrutura organizacional do ONS?
Nos últimos anos, o ONS passou por relevantes transformações estruturais. A nova organização valoriza a atuação de uma diretoria geral responsável por compliance, relacionamento institucional, comunicação, controle interno, gestão de risco, auditoria e inovação. Acima de tudo, busca dar foco a estratégias e articulações, conectando o setor às tendências tecnológicas e regulatórias do mercado global.
O organograma é dividido entre diretorias especializadas: diretoria de TI, relacionamento com agentes e assuntos regulatórios, diretoria de planejamento, diretoria de operação e diretoria de assuntos corporativos, voltada para temas jurídicos, administrativos e governamentais.
Esse modelo de governança permite decisões assertivas, maior agilidade em crises e alinhamento dos objetivos institucionais ao contexto de inovação do setor elétrico mundial.
Relação entre ONS e CCEE
Enquanto a CCEE é responsável por toda a comercialização de energia, o ONS viabiliza o fluxo físico e técnico do produto energético, permitindo negociações transparentes e eficientes. As diferenças regulatórias entre ambos garantem a separação adequada entre controle operacional e liquidação financeira, auxiliando o planejamento da programação do dia seguinte e ampliando a segurança jurídica do setor.
A integração entre o ONS e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) é importante para o equilíbrio operacional e financeiro do setor elétrico brasileiro. O ONS é quem realiza o planejamento da operação, contemplando simulações que definem o Custo Marginal de Operação (CMO), indicador vital para a definição do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) pela CCEE.
Cooperação internacional e integração energética
Além de seu papel nacional, o ONS participa de acordos bilaterais e multilaterais com países da América do Sul, promovendo intercâmbio de energia, transferência de tecnologia e padronização internacional de procedimentos. Essas ações reforçam a integração energética regional, especialmente quando a demanda ou a oferta precisam ser otimizadas por razões técnicas ou econômicas.
O ONS também colabora com instituições externas em projetos de inovação, pesquisa e adaptação de melhores práticas globais, trazendo benefícios diretos para o Brasil e colocando o país como referência em eficiência e modernização.
ONS, inovação, digitalização e futuro da energia no Brasil
A modernização do setor elétrico exige tecnologia avançada e inteligência operacional, e o ONS acompanha essa tendência investindo em centros de operações digitalizados, big data, machine learning e sistemas preditivos que aumentam a confiabilidade do SIN.
A integração crescente de energias renováveis, o avanço do mercado livre de energia e a digitalização dos processos tornam o papel do ONS ainda mais relevante para a sustentabilidade e o protagonismo do Brasil na transição energética global.
Ao promover eficiência, segurança, competitividade e inovação, o ONS consolida sua importância como agente de transformação e desenvolvimento do setor elétrico nacional.
Leia também: